terça-feira, 26 de abril de 2011

RELATO LIVRE DA FLD - BRASIL

Nova abordagem, novos olhares

Juliana Mazurana
Assessora de Projetos da FLD



A Fundação Luterana de Diaconia atua há dez anos no estímulo ao desenvolvimento social e combate à pobreza, através do apoio e acompanhamento a projetos de grupos organizados da sociedade civil de todo território nacional, que promovam qualidade de vida, cidadania e justiça social. Atualmente sua atuação está orientada por três eixos: Promoção da Diaconia (atuação junto à IECLB), Direitos Humanos e Desenvolvimento Sustentável (atuação junto à sociedade em geral) e Sustentabilidade Institucional; e por cinco áreas temáticas: Diaconia, Promoção de Direitos Individuais e Coletivos, Justiça Socioambiental, Justiça Econômica, e Emergências. Com uma equipe de oito pessoas em tempo integral, das mais diversas áreas, além de assessorias em tempo parcial, a FLD tem refletido e desenvolvido formas de inserir o tema HIV/Aids em sua complexa agenda de trabalho, que é ao mesmo tempo um grande desafio e uma oportunidade para a transversalização.

Muitas das ações realizadas (seminário, artigos, participação em eventos e atividades de formação, distribuição de materiais informativos e celebração no dia mundial de luta contra a Aids, dentre outras) tiveram o apoio de organizações parceiras, especialmente vinculadas à IECLB (inclusive com participação da própria presidência da Igreja). Destas reflexões e ações participaram principalmente membros da equipe e de instâncias diretivas da FLD e membros da IECLB (leigos e ministros/as) de diversas regiões do Brasil, que tiveram e terão papel importante na sensibilização e na motivação de outras pessoas de seu Sínodo. Estas atividades foram de grande importância especialmente para o eixo Promoção da Diaconia.


Destacamos aqui o apoio financeiro e metodológico a projetos de HIV/Aids de grupos organizados da sociedade civil. O processo de formação e a participação da FLD no Programa possibilitou uma nova abordagem do tema HIV/Aids e conseqüentemente um olhar mais apurado para estes projetos, um olhar curioso, crítico e inclusive de admiração, especialmente em relação às metodologias desenvolvidas e adotadas. A inserção no Programa também motivou a aproximação com organizações que não receberam ou recebem apoio da FLD. A fim de evidenciar a diversidade de contextos e a riqueza metodológica das experiências optamos por um recorte geográfico (no caso, região metropolitana de Porto Alegre, RS). Descrevemos abaixo algumas experiências neste sentido.

O Núcleo de Estudos da Prostituição – NEP atua desde 1989 junto às mulheres profissionais do sexo de Porto Alegre, RS. Foi pioneiro na região sul no trabalho de promoção da saúde, prevenção das DSTs e cidadania junto às mulheres profissionais do sexo, auxiliando na sua organização para lutar contra o estigma de transmissoras das DSTs. Dentre os diversos projetos e ações desenvolvidos pelo NEP, a FLD apoiou alguns deles: “Cidadania e Saúde para Mulheres Profissionais do Sexo” (2000), “Cidadania e Prevenção” (2003), “Prevenção de DSTs/Aids e Cidadania no Sul do Brasil” (2005) e “Parcerias em Redes: Ampliando ações de Prevenção e Cidadania” (2006). No início do trabalho de 1989 a 1991, cerca de 80% das mulheres envolvidas relatavam ter ou ter tido alguma DST (gonorréia, sífilis, cancro, tricomoníase, etc.). Destas, 60% tinham realizado abortos clandestinos (com agulhas de tricô, sondas, sitotec, etc) e 90% sofriam violência física e preconceituosa da polícia militar e civil (eram presas, estupradas, assaltadas e até mortas). Após anos de trabalho educativo para prevenção e cidadania, de incentivo do uso de preservativos nas relações sexuais, em média 20% das mulheres profissionais do sexo envolvidas relatam a ocorrência de infecção pelas DST (em geral, pelo não uso de preservativos nas relações afetivas); 10% relatam a realização de abortos (realizados em clínicas); 90% relatam o uso constante de preservativos nas relações sexuais com parceiros comercias - no entanto, ainda é baixa a adesão ao uso com parceiros fixos; e 10% relatam sofrer algum tipo de violência por parte da segurança pública. A importância destes projetos e da história de atuação do NEP se confirma no envolvimento das mulheres profissionais do sexo que atuam diariamente na instituição. Contam com multiplicadoras que realizam intervenções face a face em territórios de prostituição na cidade de Porto Alegre, região metropolitana e interior do Estado fortalecendo o vínculo entre estas mulheres e a instituição, incentivando a cidadania e a prevenção às DSTs por meio de práticas sexuais mais seguras.



Maria Mulher - Organização de Mulheres Negras é uma entidade feminista, coordenada por mulheres negras, que atua desde 1987 na defesa dos direitos humanos das populações marginalizadas e excluídas, principalmente de afro-descendentes e o combate às discriminações sexista, étnico-racial e social. Em sua trajetória de atuação, além de outros apoios e parcerias, Maria Mulher teve projetos apoiados pela FLD, como “Viver sem violência sexual” (2003), “Construindo a Cidadania de Mulheres em situação de violência doméstica” (2005) e “Jovens transformando vidas” (2009) que, dentre outras ações, oportunizaram a ressocialização de adolescentes e mulheres adultas vítimas de abuso sexual, através de sua integração voluntária a experiências de trabalho educativo e produtivo, possibilitando o exercício da cidadania, e promovendo a inserção no mundo do trabalho. Em paralelo, desenvolveram o projeto “Cidadania Positiva” coordenado pela nutricionista Luciana Oliveira, com o objetivo de oferecer às mulheres da Vila Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre, que vivem e convivem com HIV/Aids, a oportunidade de geração de trabalho e renda e também reflexões e informações sobre o direito humano à alimentação adequada, para que possam atuar como multiplicadoras modificando a qualidade de suas vidas e da comunidade.

A Associação Beneficente Cultural Africana Templo de Yemanjá – ASSOBECATY nasceu há setenta e sete anos, tendo vinte e três anos de atuação como Associação. Com sede em Guaíba, tem como liderança Mãe Carmem de Oxalá (Carmem Lucia de Oliveira). Suas principais ações visam o fortalecimento das religiões de matriz africana, a promoção da cultura e da cidadania, com forte incidência em políticas públicas. Em 2009, integrou com a Associação de Comunicação Conexão Comunitária uma parceria com o “Projeto Rádio Quilombo FM – Foco na Juventude” do grupo Rádio Quilombo do bairro Restinga de Porto Alegre, apoiado pela FLD. Dentre as ações desenvolvidas na área de HIV/Aids está a articulação de lideranças de casas de tradição em nove municípios do RS, e a formação destas pessoas que possuem forte papel multiplicador junto ao seu público de atuação (filhos de santo) e junto aos seus parceiros locais. Mãe Carmem de Oxalá desenvolveu estratégias próprias, para superar a dificuldade inicial que encontrou em inserir esta temática nos terreiros, entendido como espaço de promoção da vida, conflitando, portanto, com o entendimento, até então, da maioria dos Pais de Santo, de que trabalhar o tema da Aids é trabalhar a questão da morte. As metodologias desenvolvidas por Mãe Carmem possibilitaram a relação de elementos da cultura e da religião de matriz afro com as questões de prevenção e ações em relação à HIV/Aids.



A organização Educativa atua desde 2003, no município de Alvorada, RS através de projetos educativos nas escolas da rede pública, junto ao atendimento público de saúde. Também desenvolvem ações de geração de renda especialmente junto às mulheres dos bairros. O tema HIV/Aids está presente de forma direta ou indireta em praticamente todos seus projetos, informando, orientando e capacitando o público, em geral adolescentes, jovens e mulheres, nesta temática. Dos diversos projetos já executados, a FLD apoiou três deles “Inclusão Digital: informática como possibilidade de inserção e reintegração social” (2006), “Trocando letras” (2007) e “Saúde, Câmera, Ação!” (2010). Este último está em execução e visa a produção de um audiovisual por um grupo de jovens, como processo de sensibilização sobre os temas DSTs, HIV e Aids, uso e abuso de drogas, direitos humanos, auto-estima e cidadania. A música também é parte do processo educativo, já que os/as jovens envolvidos/as compõem o grupo musical Nação Periférica. Estes jovens tem se tornado referência para os demais, o que torna estratégico a formação em HIV/Aids, especialmente de forma criativa e agradável. Além dos resultados do processo, o próprio vídeo será instrumento pedagógico que poderá ser utilizado por professores das escolas.

O ASPA – Apoio, Solidariedade e Prevenção à Aids atua na região do Vale dos Sinos, desde 1992. Foi fundado por um grupo de estudantes da Escola Superior de Teologia – EST (instituição vinculada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB), incentivados pelo professor Ricardo Wangen. Através de diversos projetos, ao longo dos anos, trabalha na prevenção do HIV/Aids, hepatites virais, outras DST e tuberculose, bem como na defesa dos direitos humanos de diversos grupos como população LGBT, população em situação de rua, profissionais do sexo e pessoas que usam drogas. As ações têm por objetivo informar, aconselhar, encaminhar para os respectivos serviços públicos, promover a formação de multiplicadores por meio de assessorias e palestras junto a adolescentes, empresas e outras instituições. Também atua na sensibilização dos meios formadores de opinião. Além dos projetos continuados e dos eventos especiais, o ASPA participa de diversos fóruns e espaços de controle social.


A Casa Fonte Colombo – Centro de Promoção da Pessoa Soropositiva – HIV, vinculada a Igreja Católica fundada em 1999, atua, com ajuda de muitos voluntários qualificados e compromissados, junto às pessoas soropositivas e com seus familiares. Seu trabalho inclui desde ações de prevenção, acompanhamento, reestruturação de laços familiares e reinserção social, na perspectiva de contribuir no controle da epidemia. Dentre as diversas atividades oferecidas estão a promoção de atividades de formação sobre prevenção, saúde e cidadania, incentivo e acompanhamento dos exames e do tratamento, serviços que contribuem com a melhora da qualidade de vida como massoterapia, enfermagem, psicologia, reiki, higiene pessoal, corte de cabelo, além de apoio no encaminhamento de documentos e na marcação de exames e consultas. A suficiente e adequada alimentação é fundamental para qualquer pessoa, e não menos importante para pessoas soropositivas. Além de influenciar diretamente na capacidade do organismo de reagir perante o vírus, ou doenças associadas, a dieta tem estreita relação com o tratamento com antiretrovirais, sendo muitas vezes, fator de não adesão, ou de desistência do tratamento. Dentre os diversos fatores envolvidos na vida de soropositivos, a alimentação é de grande importância, mas nem sempre abordado pelas instituições que atuam em HIV/Aids. A Casa Fonte Colombo tem aí um grande diferencial. Desde 2007 participa do Programa de Aquisição de Alimentos da CONAB (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) recebendo alimentos orgânicos mensalmente da Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí (ECOCITRUS). Hortaliças, frutas, mandioca, moranga, abóbora, suco de uva e tangerina, dentre outros alimentos são oferecidos através de uma refeição diária aos freqüentadores da casa, sendo ainda distribuídos para que possam preparar e consumir em casa. O alimento orgânico, comprovadamente mais nutritivo e saudável, oferecido a este público, contrapõe uma “lógica” oportunista de mercado que vem se consolidando. A experiência da Casa Fonte Colombo (e da ECOCITRUS) demonstra a possibilidade de potencializar ações, contribuindo tanto para o controle da epidemia – e para a qualidade de vida de quem vive e convive com HIV/Aids - como para o fortalecimento de uma agricultura de base ecológica com forte papel social.






Todas estas organizações participam de espaços de articulação, discussão e incidência política, a exemplo dos Conselhos Municipais, Foruns Estaduais, GT Aids e Religião da secção DST/ Aids da Secretaria Estadual da Saúde, dentre outros.

Muitas outras experiências vêm se somando a estas, ao longo dos anos. Um caminho percorrido, com muitos desafios, muitas aprendizagens, muitas conquistas. A FLD aprende com elas ao apoiar ou se aproximar, e aprende constantemente a voltar a olhar, e ver o que antes não tinha visto!

Para mais informações consultar:
www.neppoa.org.br
www.mariamulher.org.br
templodeyemanja.blogspot.com ou rededenucleosdeilesafroaids.blogspot.com
www.educativars.blogspot.com
aspa-osc.blogspot.com
www.fontecolombo.org.br

RELATO LIBRE DE EMAS - MÉXICO

Experiencia De La Transversalización del VIH/SIDA en EMAS

Deseamos compartirles algunas apreciaciones de la Transversalización de VIH/SIDA en EMAS A.C. hablamos de los retos, obstáculos y algunas estrategias que hemos implementado al interior de la organización.
Cambios Significativos

Las deserciones de algunas compañeras y la integración de un nuevo compañero al programa de transversalización han tenido diversos impactos para EMAS, en los programas internos y para la vida de todas y todos los que hemos participado en él.

Principalmente la falta de permanencia de colaboradoras ha afectado el ritmo de la transversalización, porque en el afán de cumplir con las actividades, comienzan a surgir jornadas de trabajos duplicadas o muy cargadas para unas compañeras que suplen la ausencia de las otras. En las épocas de pocas colaboradoras en la organización este ha sido el problema principal, y por otro lado está la implicancia de la propia vida en las actividades de transversalización, no ha sido sencillo para ninguna de las personas que hemos colaborado revisar nuestras prácticas de vida y hacer las reflexiones que la pandemia requiere para su prevención, hay una necesidad institucional de acompañar los procesos de vida de quienes formamos parte de EMAS y por este motivo ha sido fundamental transversalizar desde los cuerpos, y no solamente con actividades de impacto hacia las comunidades.



En este sentido el proceso interno de Transversalización del VIH/SIDA para las personas que colaboramos en EMAS A.C. ha sido un espacio en el que podemos dialogar y reflexionar acerca de lo que nos implica a nivel personal y colectivo continuar con la transversalización de VIH/SIDA, utilizando como herramienta la realización de talleres de Sexualidad y Género, Sexo Seguro y de Autocuidado teniendo siempre como marco central la pandemia del VIH/SIDA.

Traducir lo que es la transversalización de la pandemia en una sociedad llena de prejuicios morales y múltiples discriminaciones, se traduce al trabajo interno desde las mismas emociones personales, las que inundan a la familia nuclear y de ahí partir a nuestro entorno, qué lugar ocupa la pandemia en nuestras realidades, lo que implica desmenuzar las cuestiones sociales, económicas y las de salud. Entender la economía de las emociones pareciera un acto sobre entendido y por lo mismo no es valorado, es por eso que insistimos tanto en la reflexión al interior del equipo.

Construir una idea homogénea de lo que es la transversalización es más que una capacitación, es entender lo que los procesos históricos y culturales perfilan un fenómeno lleno de estigmas, de mucho decir, de saber que estamos copados de la era de la comunicación virtual y que no por ser la nueva era de la comunicación tiene criterio amplio y auto critico, pareciera que es más bien la era de la desinformación y si lo fuera, entonces tiende a información de una manera muy directiva y poco honesta en muchas ocasiones.

A principios de 2010 iniciamos un proyecto de investigación sobre la feminización de la pandemia de VIH/SIDA en el estado de Michoacán. El propósito del proyecto es registrar el panorama general de la epidemia de VIH/SIDA en el estado de Michoacán con el fin de visibilizar la feminización de la pandemia.

El proyecto de investigación se llevará a cabo en cuatro fases por medio de:
1). Entrevistas a mujeres portadoras de VIH/ SIDA con diferentes perfiles socio-económicos en varias comunidades del estado de Michoacán
2). Entrevistas a activistas y profesionistas asociados/as a ONGs e instituciones gubernamentales que atienden a mujeres portadoras de VIH/ SIDA en el estado de Michoacán
3). Entrevistas a investigadores académicos que trabajan el tema del VIH/ SIDA en el estado de Michoacán
4). Investigación de archivo y mapeo de resultados de investigaciones sobre la feminización de la pandemia llevadas a cabo a nivel regional, nacional e internacional.

Nos interesa obtener respuestas a las siguientes preguntas, entre otras: ¿Cuáles son los patrones de transmisión del VIH/ SIDA entre la población femenina en el estado de Michoacán? ¿Cómo sobrellevan las mujeres portadoras de VIH/SIDA su condición de salud? ¿Cuáles son los procesos de estigma y discriminación con los que se enfrentan las mujeres portadoras de VIH/ SIDA en su vida cotidiana? ¿Existen programas de prevención, asistencia y derechos humanos para las mujeres portadoras de VIH/ SIDA implementados por el gobierno o la sociedad civil? ¿Cómo se da el registro de los casos de VIH/ SIDA en las instituciones? ¿Existen discrepancias entre el registro de casos masculinos y el registro de casos femeninos?

En este año tenemos planteado seguir con el proceso interno contemplado la posibilidad de invitar a diferentes actores gubernamentales y organizaciones civiles para dialogar los temas de ITS y VIH/SIDA, Estigma y discriminación y autocuidado para las personas que trabajan en la lucha contra el VIH/SIDA, esperando enriquecer nuestra experiencia de transversalización interna. Compartiremos la experiencia de Transversalización con las organizaciones mexicanas contrapartes de PPM y deseamos concluir el proyecto de Investigación.